Compartilhe

A História do Tarot Waite: Origens, Símbolos e Influências

O Tarot Waite – também conhecido como Rider-Waite ou Waite-Smith – é possivelmente o baralho de tarô mais famoso e utilizado no mundo. Mesmo quem nunca jogou tarô provavelmente já viu suas cartas icônicas estampadas em filmes, livros ou nas redes sociais. Mas como surgiu esse baralho e o que o torna tão especial? Neste artigo, vamos explorar a origem do Tarot Waite, conhecer seus criadores Arthur Edward Waite e Pamela Colman Smith, entender as influências esotéricas por trás de seus símbolos e descobrir como ele se tornou um dos baralhos mais populares do planeta. Também vamos comparar o Tarot Waite com outros tarôs tradicionais e ver sua influência na cultura atual e no autoconhecimento.

As Origens do Tarot Waite

No início do século XX, o ocultista britânico Arthur Edward Waite decidiu que era hora de criar um novo baralho de tarô que incorporasse os conhecimentos esotéricos modernos de sua época. Waite era membro da influente Ordem Hermética da Aurora Dourada (Hermetic Order of the Golden Dawn), uma sociedade secreta dedicada ao estudo do ocultismo. Ele havia pesquisado os antigos baralhos medievais de tarô e, fascinado por sua simbologia, queria produzir uma versão atualizada e acessível desse conhecimento místico. Diferentemente de muitos místicos de sua era que guardavam segredos a sete chaves, Waite tinha uma abordagem mais aberta: ele desejava compartilhar as ideias ocultas com um público mais amplo, e não apenas dentro de círculos fechados de iniciados.

Para realizar sua visão, Waite contou com a colaboração da artista Pamela Colman Smith, que também era membro da Golden Dawn. Em 1909, Pamela – apelidada de “Pixie” – recebeu de Waite a encomenda para ilustrar um baralho completo de 78 cartas. A editora Rider & Son publicou a primeira edição desse tarot no mesmo ano de 1909, seguindo as instruções de Waite e com as ilustrações de Smith, ambos então membros da Aurora Dourada. O resultado foi batizado inicialmente de Rider Tarot (em referência ao editor William Rider), mas ficou mundialmente conhecido pelos nomes de seus idealizadores: Rider-Waite (ou Waite-Smith, para incluir o sobrenome da artista).

Waite fez questão de escrever um livro guia para acompanhar o baralho – “The Pictorial Key to the Tarot” – publicado em 1910, explicando o significado de cada carta e os princípios simbólicos do novo tarot. Assim, desde sua origem, o Tarot Waite já se apresentava como um pacote completo de baralho + livro, pensado para tornar o estudo do tarô mais didático e acessível a estudantes e entusiastas.

Arthur Edward Waite e Pamela Colman Smith

Arthur Edward Waite (1857–1942) foi um estudioso místico, escritor e tradutor de dezenas de obras sobre ocultismo, misticismo e simbolismo. Além de ocultista, Waite era rosacruciano, maçom e profundo conhecedor de tarot, cabala e alquimia. Diferentemente de figuras mais extravagantes de sua época (como Aleister Crowley, com quem trocou farpas), Waite tinha um perfil mais discreto e acadêmico, buscando integrar a espiritualidade e a mística em um sistema compreensível. Sua visão ao criar o Tarot Waite era levar ao público geral o arcabouço simbólico que antes ficava restrito aos iniciados. Ele supervisionou de perto a concepção das cartas, inundando o baralho com símbolos evidentes e ocultos que refletiam seu vasto conhecimento esotérico. Cada carta foi planejada para conter múltiplos níveis de significado, oferecendo material rico para estudo e contemplação.

Pamela Colman Smith (1878–1951), por sua vez, foi a artista responsável por dar vida visual às ideias de Waite. Nascida na Inglaterra e criada parcialmente na Jamaica, Pamela tinha formação em artes e envolvimento com teatro e folclore. Ela entrou para a Golden Dawn por volta de 1901, onde conheceu Waite. Em 1909, quando Waite precisava de um artista para ilustrar seu novo tarot, considerou que Pamela era a pessoa ideal para concretizar sua visão. Pamela então desenhou à mão as 78 lâminas (22 Arcanos Maiores e 56 Arcanos Menores) em um tempo relativamente curto – alguns historiadores sugerem que ela produziu todas as ilustrações em apenas cerca de sete meses. Apesar da magnitude do trabalho, Pamela recebeu apenas uma quantia modesta pelo projeto. Por muito tempo, sua contribuição foi subestimada – o baralho levava apenas os nomes de Rider (editor) e Waite, omitindo o nome da ilustradora. Contudo, hoje Pamela Colman Smith é amplamente reconhecida como co-criadora do Tarot Waite, e em sua homenagem muitas vezes chamamos o baralho de Tarot Waite-Smith.

Pamela trouxe para as cartas não só o que Waite lhe descrevia, mas também um toque de sua própria sensibilidade artística e mística. Ela tinha interesse por contos folclóricos, teatro e símbolos universais, influências que transparecem nas cenas vívidas e expressivas que desenhou. Sua arte no Tarot Waite, de estilo próximo ao art nouveau simplificado, combina figuras claras com detalhes simbólicos sutis, criando cenas que narram pequenas histórias em cada carta.

Simbolismo e Influências Esotéricas

O Tarot Waite nasceu em uma época de intenso interesse pelo ocultismo e pela simbologia. Waite e Pamela, como membros da Ordem da Golden Dawn, foram profundamente influenciados pelos ensinamentos esotéricos dessa ordem. Diversos elementos simbólicos do baralho refletem conceitos da Golden Dawn e de ocultistas do século XIX, como Eliphas Lévi. Waite desejava que seu tarot incorporasse correspondências místicas entre as cartas e outras tradições, como a astrologia, a numerologia e a cabala. Para isso, ele introduziu algumas inovações marcantes em relação aos baralhos mais antigos.

Uma das mudanças significativas foi a alteração na numeração de duas cartas dos Arcanos Maiores: Waite inverteu a posição tradicional da Força e da Justiça. Nos tarôs anteriores (como o de Marselha), a Justiça era a carta VIII e a Força a carta XI; Waite trocou suas ordens para que Força ocupasse o número 8 (associado ao signo de Leão) e Justiça o número 11 (associado a Libra), alinhando o tarot com as correspondências astrológicas ensinadas na Golden Dawn. Essa mudança permitiu que cada Arcano Maior correspondesse de forma mais direta a um signo zodiacal ou elemento, integrando tarô e astrologia em um mesmo sistema simbólico.

Waite também promoveu ajustes na iconografia das cartas para reforçar conceitos esotéricos. Elementos do imaginário cristão medieval presentes nos baralhos antigos foram repensados. Por exemplo, a carta da Papisa (ou Papesse, no Tarot de Marselha), que mostrava uma figura feminina papal, foi transformada na Alta Sacerdotisa, uma guardiã do subconsciente e dos mistérios, agora sem a tiara papal e com simbologia mais universal. De modo semelhante, o Papa do tarot tradicional foi renomeado como Hierofante (O Sumo Sacerdote) no tarot de Waite, retratado como um mestre espiritual em vez de uma figura unicamente ligada à Igreja. Essas mudanças refletiam o clima esotérico da época – havia o desejo de universalizar os arquétipos do tarô, destacando seus significados espirituais e psicológicos, para além das referências religiosas específicas.

Além das mudanças nas figuras principais, o Tarot Waite inovou principalmente ao nível dos Arcanos Menores. Tradicionalmente, nos tarôs antigos, as 56 cartas menores (que incluem os naipes de Paus, Copas, Espadas e Ouros) não possuíam cenas ilustrativas detalhadas – mostravam apenas o número de símbolos do naipe (por exemplo, sete espadas desenhadas significando o Sete de Espadas), o que tornava sua interpretação mais abstrata. Pamela Colman Smith quebrou esse paradigma ao criar cenas completas e ilustradas para cada uma das cartas menores, recheando-as de personagens e narrativas. Assim, mesmo cartas consideradas “simples”, como um três de copas ou um sete de espadas, ganharam vida própria no Tarot Waite, exibindo pequenas histórias ou situações simbólicas. Essa abordagem visualmente rica foi influenciada por uma variedade de fontes místicas e artísticas que Pamela absorveu ao longo da vida, e facilitou enormemente a leitura intuitiva das cartas. Agora, em vez de o intérprete se deparar apenas com “cinco bastões” num cartão, ele via uma cena de cinco pessoas em conflito (no Cinco de Paus, por exemplo), o que transmitia de imediato a ideia de competição ou desentendimento.

O Tarot Waite também incorporou símbolos ocultos em praticamente todas as cartas – nada ali é por acaso. Do ramo de palmeira nas mãos do Louco à posição das estrelas na coroa da Estrela, cada detalhe carrega algum significado esotérico, seja da alquimia, da mitologia, da astrologia ou da cabala. Waite e Smith conseguiram entrelaçar esses diversos fios simbólicos de forma harmoniosa. O resultado foi um baralho com imagens simples à primeira vista, mas que revelam camadas profundas de interpretação para quem as estuda atentamente. Essa combinação de acessibilidade visual e profundidade simbólica fez do Tarot Waite uma ferramenta poderosa tanto para iniciantes quanto para ocultistas experientes.

A Popularização do Baralho Waite-Smith

Quando foi lançado, em 1909, o tarot de Waite representou uma pequena revolução no mundo do ocultismo. No início do século XX, os baralhos de tarô eram relativamente obscuros fora dos círculos esotéricos. Porém, o Rider-Waite-Smith logo começou a se destacar por sua abordagem visualmente atraente e pela publicação do livro explicativo que o acompanhava. Com o passar das décadas, especialmente a partir da metade do século XX, esse baralho ganhou enorme popularidade internacional e gradualmente se estabeleceu como o baralho padrão para a cartomancia e estudos de tarô.

Vários fatores contribuíram para essa popularização. Primeiro, a riqueza de cenas e símbolos do Tarot Waite o tornava muito didático e intuitivo, facilitando a vida de estudantes e leitores de tarô. Muitos livros e cursos de tarot passaram a usar as cartas de Waite-Smith como base para ensinar os significados, justamente por elas comunicarem as ideias de forma tão visual. Ou seja, o Tarot Waite virou a “língua franca” do mundo do tarô: mesmo que existam outros baralhos, a maioria dos guias interpretativos faz referência às imagens deste deck clássico.

Além disso, empresas como a U.S. Games Systems (fundada por Stuart Kaplan nos anos 1960) relançaram o Tarot Waite e o distribuíram amplamente, tornando-o facilmente disponível. O baralho foi sendo reeditado em diversas versões, tamanhos e línguas, agradando a diferentes públicos. Não tardou para que artistas e outros ocultistas criassem suas próprias variações inspiradas no Waite-Smith – adicionando estilos de arte diferentes ou adaptações culturais – mas ainda assim baseadas na estrutura e simbologia do deck original. Em outras palavras, Waite e Smith estabeleceram um modelo que seria seguido por inúmeros outros baralhos posteriores, tamanha a influência de seu trabalho pioneiro.

Hoje, mais de um século após sua criação, o Tarot Waite permanece em impressionante circulação global. Estimativas sugerem que já foram produzidas mais de 100 milhões de cópias desse baralho, distribuídas em mais de 20 países. Poucos baralhos de tarô (ou mesmo poucos jogos de cartas em geral) alcançaram esse nível de difusão. Essa penetração mundial fez com que as imagens do Waite-Smith se tornassem praticamente sinônimo de “tarô” no imaginário popular. Se alguém menciona uma leitura de tarô, é bem provável que você visualize mentalmente figuras como o Mago com sua mesa de ferramentas, a Morte como um cavaleiro esqueleto empunhando bandeira negra, ou o Sol sorridente com duas crianças – todas cenas específicas do Tarot Waite que se gravaram na psique coletiva.

Vale mencionar também que, com o tempo, o nome de Pamela Colman Smith ganhou o devido reconhecimento nas edições contemporâneas do baralho. Atualmente, muitos decks vendidos vêm com o crédito Rider-Waite-Smith, e em 2009 – no centenário do lançamento – foram lançadas edições comemorativas, livros e exposições celebrando Pamela “Pixie” Smith e sua arte visionária. Assim, a popularização do tarot não apenas tornou famoso o nome de Waite, mas resgatou a história de Pamela, garantindo-lhe um lugar de honra na história do tarô.

Diferenças em Relação a Outras Vertentes Tradicionais

Para entender o legado do Tarot Waite, é útil compará-lo com outros baralhos tradicionais de tarô que o precederam ou que são paralelos a ele. O contraste mais notável é com o Tarot de Marselha, originário da França e cujas raízes remontam ao século XVIII. O Marselha é um dos tarôs europeus clássicos e, antes do surgimento do Waite-Smith, era a versão mais conhecida e utilizada. No entanto, os dois baralhos diferem bastante em estilo e enfoque simbólico.

Uma das diferenças principais está nas cartas de Arcanos Menores. No Tarot de Marselha, as cartas numeradas (de Ás a 10) de cada naipe geralmente não possuem uma cena ou figuras humanas – elas exibem apenas símbolos do naipe estilizados (por exemplo, o Quatro de Espadas mostra quatro espadas cruzadas, sem nenhum personagem). Isso faz com que a interpretação dessas cartas dependa mais de conhecimento numerológico ou da imaginação do leitor. Já no Tarot Waite, como vimos, cada carta dos Arcanos Menores traz uma cena ilustrada completa, com personagens e ações. Essa inovação facilita a compreensão imediata do significado do tarot de marselha em comparação com o Waite, já que no Marselha o leitor precisa recorrer à tradição e ao simbolismo mais abstrato, enquanto no Waite a imagem sugere uma narrativa concreta. Por exemplo, o Cinco de Copas no Tarot Waite mostra uma figura de luto olhando para taças derrubadas – uma cena que naturalmente evoca perda e arrependimento. No Marselha, o Cinco de Copas mostraria apenas cinco taças desenhadas, exigindo que o intérprete já soubesse que essa carta pode significar decepções emocionais. Em suma, o Waite tornou o tarô mais visual e narrativo, enquanto o Marselha se mantém mais simbólico e tradicional em sua iconografia.

Outra distinção está na nomeação e na numeração de alguns Arcanos Maiores. Como mencionado, Waite alterou a ordem de Força e Justiça para atender às correspondências astrológicas da Golden Dawn, ao passo que o Tarot de Marselha e outros decks anteriores mantinham a sequência original (Justiça como VIII, Força como XI). Além disso, Waite renomeou algumas cartas: a Papisa e o Papa do Marselha tornaram-se a Alta Sacerdotisa e o Hierofante no Waite, respectivamente, refletindo uma abordagem menos ligada às instituições religiosas e mais voltada a arquétipos espirituais universais. As imagens também passaram por adaptações – o arcano dos Enamorados (L’Amoureux no Marselha) é um bom exemplo. No deck de Marselha, essa carta mostra um homem entre duas mulheres e um cupido acima, sugerindo uma escolha amorosa ou moral. Waite reinterpretou esse arcano mostrando Adão e Eva no Jardim do Éden, sob a bênção de um anjo, enfatizando temas de união divina e consequências das escolhas. Essa diferença ilustra como o Waite incorporou narrativas bíblico-esotéricas para ampliar o simbolismo da carta, enquanto o Marselha mantinha uma cena alegórica mais próxima dos valores renascentistas.

Apesar dessas diferenças, é importante notar que todos os tarôs tradicionais compartilham uma estrutura básica: 78 cartas, sendo 22 arcanos maiores (do Louco ao Mundo) e 56 menores divididos em 4 naipes. O espírito do tarô – como uma jornada simbólica repleta de arquétipos – permanece presente tanto no Marselha quanto no Waite e em outros baralhos. Cada vertente, porém, carrega as marcas culturais e esotéricas de sua época. O Tarot de Marselha, por exemplo, está ligado à iconografia medieval e renascentista europeia; já o Tarot Waite reflete o ecletismo ocultista do início do século XX, mesclando referências de astrologia, cabala, magia cerimonial e mito em suas imagens.

Além do Marselha, outro baralho de destaque a ser mencionado é o Tarot de Crowley (Thoth), criado pelo ocultista Aleister Crowley e pintado por Lady Frieda Harris na década de 1940. O Thoth seguiu uma linha diferente da de Waite, incorporando fortes doses de simbolismo astrológico, egípcio e cabalístico, e apresentando um estilo artístico mais abstrato e moderno. Porém, mesmo o Thoth – considerado uma “vertente” alternativa – se apoia na estrutura que o Tarot Waite também adotou (a ordem Golden Dawn dos arcanos, com Força VIII e Justiça XI, por exemplo). No fim das contas, o Tarot Waite acabou servindo como ponte entre a tradição clássica (Marselha) e as inovações modernas do tarô. Ele honrou a essência do tarô tradicional, mas abriu caminho para novas interpretações. É comum, inclusive, estudantes começarem aprendendo pelo Waite e depois explorarem o Marselha para compreender as raízes históricas, ou vice-versa, comparando os dois para enriquecer a prática.

(Para saber mais sobre a tradição marselhesa, confira nosso artigo sobre o significado do tarot de marselha, onde desvendamos os mistérios e símbolos desse baralho clássico.)

O Tarot Waite na Cultura Atual e no Autoconhecimento

Mais de cem anos após sua criação, o Tarot Waite não é apenas um baralho de cartas – ele se tornou um ícone cultural e uma ferramenta de autoconhecimento amplamente reconhecida. Nas últimas décadas, especialmente no século XXI, houve um ressurgimento do interesse popular pelo tarô, e o baralho Waite-Smith está bem no centro desse fenômeno.

Hoje, práticas esotéricas antes vistas como nicho estão na moda. O tarot aparece com destaque em filmes, séries de TV, videoclipes e na estética de muitas obras de arte contemporâneas. Quem nunca viu, em alguma cena de filme, uma cartomante virando a carta da Morte ou do Enforcado para chocar o protagonista? Na grande maioria das vezes, as cartas exibidas nessas produções são do Tarot Waite ou de decks derivados dele – prova de quão arraigadas suas imagens estão em nosso imaginário coletivo. Em alguns casos, o tarot foi parte essencial de tramas famosas (como no filme de James Bond “Viva e Deixe Morrer“, de 1973, onde um baralho baseado no Waite é usado como elemento central da história). Referências ao tarot também permeiam a música (capas de álbuns, letras), os videogames e até a moda.

No mundo digital, o interesse explodiu. A hashtag #Tarot ultrapassa 8 bilhões de visualizações no TikTok, com incontáveis criadores de conteúdo realizando leituras e explicando cartas online. Plataformas como Instagram e YouTube também estão repletas de tiragens coletivas, desafios de cartas do dia e discussões sobre baralhos – e o embaralhar das cartas Waite-Smith virou praticamente um ritual viral. Marcas de luxo e designers gráficos vêm aproveitando essa onda mística: já houve campanhas publicitárias inspiradas no tarot (inclusive durante eventos esportivos), bem como coleções de alta costura com modelos vestidas como figuras do tarô. Esse fenômeno indica que o tarot, outrora algo oculto e misterioso, agora tem uma visibilidade mainstream que poucos imaginariam décadas atrás.

Mas para além da estética e da mídia, o Tarot Waite mantém relevância profunda como ferramenta de autoconhecimento. Cada vez mais pessoas buscam no tarô uma forma de reflexão pessoal, orientação psicológica e conexão espiritual. Ao contrário do estereótipo antigo de “prever o futuro”, o uso moderno do tarot – especialmente do Waite, com suas imagens ricas – está focado em entender o presente, explorar o subconsciente e fomentar o crescimento interior. Uma leitura de tarot pode funcionar como um espelho simbólico: as cartas que surgem tendem a representar arquétipos e situações que fazem o consulente pensar sobre seus próprios desafios, sentimentos e escolhas. Nesse sentido, o Tarot Waite é comparável a outras ferramentas de autoexploração, como a astrologia. Por exemplo, muita gente combina o estudo do tarô com o mapa astral, vendo ambos como caminhos complementares para se conhecer melhor. Assim como descobrir o que é mapa astral pode trazer insights sobre nossa personalidade e propósito de vida, trabalhar com as cartas do Tarot Waite pode ampliar nossa visão sobre questões íntimas, munindo-nos de símbolos para pensar em nossas experiências e decisões de forma mais clara e criativa.

Especialistas em psicologia junguiana há tempos notam o valor arquetípico do tarot. As imagens do Waite, em particular, contêm figuras e situações que ressoam com os arquétipos descritos por Carl Jung – o Louco como arquétipo do herói inocente em jornada, a Sombra refletida em cartas como o Diabo ou a Torre, o Self representado no Mundo, e assim por diante. Não é de se espantar que alguns terapeutas e coaches utilizem cartas de tarô (frequentemente baseadas no Waite) em processos de autoconhecimento, como forma de acessar o imaginário e desbloquear conversas sobre a psique. As cartas falam uma linguagem simbólica universal que cada pessoa interpreta à sua maneira, estimulando a intuição e a introspecção.

Em resumo, a influência do Tarot Waite na cultura atual vai do pop ao profundo. Ele está presente tanto nas vitrines e telas quanto nos altares e espaços de meditação. É um baralho centenário que soube se reinventar e se manter relevante. Ao contar a história do Tarot Waite – desde sua criação por A. E. Waite e Pamela Colman Smith, passando pelas influências místicas que moldaram suas imagens, até sua disseminação massiva e uso contemporâneo – percebemos que ele próprio espelha a jornada do Louco que retrata: saiu de um passo ousado rumo ao desconhecido (quando Waite e Smith criaram algo inovador em 1909) e percorreu um longo caminho, tocando a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo.

O Tarot Waite permanece, assim, um guia simbólico para os buscadores modernos, convidando cada um de nós a embarcar em nossa própria jornada de autodescoberta, com suas cartas servindo de mapa e espelho da alma. Seja através de uma leitura casual entre amigos, de um estudo sério do ocultismo ou de uma tendência artística passageira, o legado de Waite e Smith continua vivo, provando que símbolos antigos podem sempre ganhar novos significados conforme a humanidade evolui e reinterpreta seus mistérios.